Francisco Valdomiro Lorenz (Briga Entre
Gnomos− O Filho de Zanoni)
“Andava Deodato, num dia outonal, num bosque, procurando para
Mejnour certas ervas de que este necessitava para a preparação de
medicamentos, quando, de súbito, um estranho espetáculo se ofereceu à sua
vista. Um pequeno vulto, semelhante a uma criança, porém barbudo, cuja
altura não atingia vinte polegadas, estava rodeado de seis outros seres
semelhantes, porém de aspecto carrancudo, os quais sopravam fortemente
contra ele, ameaçando−o com os punhos. Eram, como Deodato logo
compreendeu, espíritos da natureza, pertencentes a duas tribos diferentes
dos Pigmeus. o agredido defendia−se, soltando gritos e fazendo vários
gestos. Era evidente que não se tratava de uma brincadeira, mas de uma
verdadeira luta em que esses seres etéreos empregavam como armas as
forças das vibrações. Observando que o pigmeu atacado estava prestes a
cair, exausto, nas mãos de seus agressores, decidiu−se a socorrê−lo.
Concentrou os pensamentos na fonte de Todo o Bem, evocou a Força da
Eterna Justiça e estendeu ambas as mãos contra os espíritos agressores,
dizendo com voz enérgica:
− Cessai de combater e ide−vos em paz!
O efeito dessas palavras e do gesto que as acompanhava foi
admirável. Os pigmeus agressores estremeceram, encolheram os corpos e
olharam de soslaio o homem que lhes dava essa ordem.
o jovem repetiu as palavras e o gesto, dinamizando−os mais ainda, e
num instante os agressores puseram−se a fugir, aterrados.
O gnomo que se viu livre de seus inimigos aproximou−se lentamente
de Deodato e, abraçando−he os joelhos, pronunciou algumas palavras de
agradecimento que o moço não compreendeu, ma cujo sentido adivinhou.
− What’s your name, my little friend?(Qual é seu nome, meu
amiguinhho?) − perguntou Deodato, em inglês, ao pigmeu. E, como este não
respondesse, repetiu a mesma frase em francês:
− comment vous appellez−vous, mon petit ami?
Mas o pigmeu não entendia, nem o inglês, nem o francês. Então,
Deodato formulou a pergunta em italiano:
− Come vi chiamate, mio píccolo amico?
Desta vez recebeu a resposta, também em italiano:
− Mi chiamo Silvano, buon huomo!(Chamo−me Silvano, bom homem!)
− E o gnomo, sorrindo, subiu no ombro do jovem, acariciando−o e repetindo
várias vezes:
− Siete buono, siamo amici.(Sois bom, somos amigos).
Neste instante, avistando umas ervas que buscava, Deodato apeou o
pigmeu, dizendo−lhe:
− Deixai−me colher essas ervinhas.
− Precisais delas? − tornou este − Esperai um momento.
E ausentou−se, correndo. Dentro de poucos minutos, porém,
regressava, acompanhado de seis companheiros, e cada um trazia um
ramalhete daqueles vegetais, que os pigmeus ofereceram a Deodato,
sorrindo e dizendo:
− Tomai, bom homem!
O moço agradeceu; os pigmeus rodearam−no e, de mãos dadas,
puseram−se a cantar e dançar em torno dele. Depois de uns dez minutos,
despediram−se, clamando:
− A rivederci! (Até outra vista!) − E retiraram−se rapidamente.
Desde então, Deodato encontrava−se freqüentemente com o pequeno
Silvano, quando percorria o bosque. Bastava−lhe pronunciar por três vezes o
nome do pigmeu, em direção ao Norte, acompanhado de certos gestos que
este lhe indicara como seu ‘sinal’ e Silvano não demorava em aparecer,
sempre muito satisfeito por poder acariciar o homem que o salvara de um
grande perigo, pois, como explicou a Deodato, os seus inimigos o haveriam
matado, se o moço não o tivesse socorrido com sua benévola intervenção; é
que os Espíritos dos Elementos não são imortais, embora alguns deles vivam
durante séculos.
− Por que vos perseguiam aqueles malvados? − perguntou Deodato a
Silvano.
− Porque não quis ceder−lhes a minha morada que cobiçaram
possuir, quando se aborreceram do lugar onde habitavam.
− Ah! − pensou o jovem − Até esses pequenos seres que, em todo e
qualquer pedacinho de terra podem achar espaço suficiente para nele fixar a
sua residência, deixam−se seduzir e inquietar pelo triste vício da cobiça! E
para desalojar um dos seus iguais, não trepidam em lutar, matar ou expôr a
sua vida!”
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